terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Hospitalização, lazer, humor/riso

Em nosso país muito se fala em lazer, mas pouco se sabe sobre ele. Assim, antes de se começar a discorrer sobre o tema, se faz necessário defini-lo. Para Dumazedier (1976, p. 16), Lazer é "um conjunto de ocupações às quais o indivíduo pode entregar-se de livre vontade, seja para repousar, seja para divertir-se, recrear-se e entreter-se, ou ainda, para desenvolver sua informação ou formação desinteressada, sua participação social voluntária ou sua livre capacidade criadora após livrar-se ou desembaraçar-se das obrigações profissionais, familiares e sociais". Segundo Marcelino (1996, p. 4), é recente a preocupação de pensadores e pesquisadores brasileiros quanto à questão do lazer que ainda encontra-se “vinculado à urbanização da vida nas grandes cidades”. Acredita-se que foi devido à redução da carga horária diária de trabalho conquistada através da revolução industrial que as pessoas começaram a ter o chamado tempo livre. Porém, torna-se mais difícil ocupá-lo com algo importante a ser feito, mesmo que tais atividades sejam de lazer e, por serem assim, imprescindíveis ao bem-estar social, está cada vez mais difícil de preencher esse tempo na sociedade em que se vive (LEANDRO, 2006). Leandro (2006) segue afirmando que “As atividades de lazer, por estarem diretamente ligadas com o prazer intrínseco de quem participa, ocupam a mente e o corpo, e, por conseguinte não os deixa tornarem-se ociosos”. Essa afirmativa deixa evidente que as atividades de lazer devem ter caráter desinteressado, ou seja, que a pessoa deve fazer o que gosta, aquilo que lhe faz bem mesmo que para isso fique “fora da moda”. Para Marcellino (1996, p 17), “A realização de qualquer atividade de lazer envolve a satisfação de aspirações dos seus praticantes”. Segundo o autor, é certo que as atividades de lazer devam estar de acordo como o modo de cada pessoa. Ainda, conforme o referido autor, as seis áreas de interesse abrangidas pelos conteúdos de lazer são: artística, que engloba todas as manifestações artísticas; intelectual, as participações em cursos ou a leitura, por exemplo; esportiva, todas as atividades nas quais prevalece o movimento; manual, é delimitada pela capacidade de transformar objetos ou materiais; turística, passeios e viagens e; social, quando se busca, principalmente, os relacionamentos. O lazer, segundo Fernandes (2007) possui três funções: a primeira diz respeito ao que chamamos de descanso. É a liberação do cansaço, da fadiga. “Nesse sentido o lazer tem a função de restaurar as energias físicas e mentais dos indivíduos perdidas nas mais diversas atividades humanas”. A segunda função do lazer compreende divertimento, recreação e entretenimento, “a busca de uma vida de complementação, de compensação e de fuga por meio do divertimento e evasão do mundo diferente, e mesmo diversificado, daquela que enfrenta diariamente”. A terceira função do lazer relaciona-se ao desenvolvimento da pessoa humana. Essa é uma função que “proporciona ao indivíduo uma participação social maior e com mais liberdade”. Raposo e López (2006) realizaram estudo junto a portadores de lesão medular na faixa etária de 18 e 53 anos, com o objetivo de identificar suas concepções de lazer e as atividades que gostam de realizar durante o lazer. Os resultados demonstraram que, para 50% dos pacientes entrevistados, lazer significa diversão, seguido de 20% que consideram lazer como descanso. Quanto às atividades que gostam de realizar durante o lazer, as mais citadas foram as atividades manuais (87,8%), sociais (78,7%), intelectuais (72,7%), turísticas (60,6%), artísticas (57,5%) e esportivas (48,4%).
Resultados de uma pesquisa realizada com 32 pacientes internados no Hospital Universitário da USP, para verificar o interesse dos pacientes quanto à necessidade ou não de atividades lúdicas durante o período de internação, demonstraram que, para 96,88% dos entrevistados, é importante a existência de atividades recreativas “pois assim poderiam se encontrar, interagir, compartilhar as experiências da doença e da internação”. Foram citadas, ainda, 148 atividades recreativas de interesse. As mais citadas foram: “ouvir música (18,92%); escrever cartas, diário e palavras cruzadas (17,57%); [...]; ler livros 14,19%)” (ENSAIO..., 2006). Os resultados colocam em evidência que, independente da faixa etária, o lazer pode ser considerado um item relevante na qualidade de vida das pessoas, em especial as hospitalizadas. Há alguns anos, para a ciência, era quase uma heresia afirmar que existia uma vinculação direta entre o humor e a boa saúde. Atualmente, a medicina, em geral, estuda muito a importância do bom humor, dos bons sentimentos e da afetividade sadia na qualidade de vida e na saúde global da pessoa. O humor é um estado de espírito, muitas vezes é um remédio para soluções de problemas, geração de idéias e para a criação. [...] Como diz o ditado ‘quem canta seus males espanta’, eleva auto-estima, desopila o fígado, para algumas pessoas leva ao entendimento da razão de viver, como para outros é a forma de viver e outros o meio para viver, como nos casos dos artistas (FELIPPE, 2004). Ballone (2005) afirma que os efeitos do bom humor sobre a saúde física são tão evidentes que uma boa e sincera risada pode ter a importância de uma sessão de ginástica. Em estudo realizado por Miller (apud BALLONE, 2005), foram exibidos trechos de dois filmes, um cômico e outro dramático, para 20 voluntários cujo sistema vascular estava sob observação. A investigação centrou-se no comportamento do endotélio, que se contraiu nas cenas mais tristes, reduzindo a passagem do sangue em 14 dos 20 voluntários. Por contraste, quando os espectadores riram nas cenas cômicas, o sangue fluiu muito mais livremente em 19 deles. Conforme artigo publicado na Revista Viver Nutrilite, a química e cientista Conceição Trucom, autora de um livro sobre a relação do bom humor com a saúde das pessoas, explica que o bom humor é uma qualidade 100% espiritual. Ele vem da alma e se manifesta pela criatividade, flexibilidade e adaptabilidade. O bom humor nos permite rir das pressões, da rigidez e dá espaço para sairmos destas estruturas que nos cegam e muitas vezes nos fazem sofrer, permitindo-nos, assim, enxergar saídas e soluções, e nos dá oxigênio novo para crescer. Patch Adams, no filme protagonizado por Robin Williams, conta a história de um estudante de medicina esforçado, de todas as maneiras possíveis, em mostrar a importância de humanizar a profissão médica, bem como a importância do humor como meio para atingir o bem-estar dos doentes. Para Adams e Mylander (2002, p. 106) “As pessoas precisam de risada como se ela fosse um aminoácido essencial. Quando as dores da existência nos oprimem, precisamos urgentemente de um alivio cômico. [...] Contudo, o humor é negado ao mundo adulto”. Os autores seguem afirmando que o meio acadêmico faz pouco para que os futuros profissionais desenvolvam a capacidade de aliviar momentos tensos, que os hospitais ainda são conhecidos pela sua atmosfera triste, melancólica e fúnebre e, ainda que um pouco de humor só é encontrado no horário de visita. Siegel (2006, p. 29) refletindo sobre a hospitalização comenta que [...] raras vezes a instituição hospitalar é hospitaleira. [...] por que os arquitetos, pelo menos, não pensam em tetos mais bonitos, já que os internados passam tanto tempo olhando para cima. Há um aparelho de televisão em cada quarto, mas onde está o vídeo musical, criador, meditativo ou humorístico que ajude a estabelecer um ambiente saudável? Que liberdade se dá aos doentes para que mantenham sua identidade? É grande o número de pessoas que tem pavor de hospital, além de experiências traumáticas quando precisam ir a um, porém, segundo Adams e Mylander (2002, p. 111), se grandes esforços forem feitos, é possível mudar este cenário, pois “o serviço a pessoas na sua dor e sofrimento deveria – e pode – trazer completude. Chamemos o humor para dar-nos uma mãozinha e façamos a medicina alegre”.

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